The Cross banda pioneira do Doom Metal nacional,
foi fundada em 1990, por Eduardo Slayer (vocal), que inspirado em mestres como
Black Sabbath e Candlemass, juntou-se com Mauricio no baixo, Jorge King Cobra
na bateria e nas guitarras Josué e Pedro. Com essa formação a banda gravou as
primeiras demos, sendo que a “The Fall”, tornou-se um clássico do estilo.
Depois de um longo tempo apodrecendo a banda retorna e em 2015 lançou o EP “Flames
Through Priests”, que com apenas duas musicas deixou a todos com o desejo de
muito mais musicas. Então no inicio deste ano de 2017 a banda lançou “The Cross”
com mais musicas de um poderoso e fúnebre Doom Metal! Em uma longa entrevista o
Eduardo Slayer nos falou sobre o passado e o presente da banda. Confira:
1. Primeiramente quero dizer que é um prazer poder entrevista-los para o Odicelaf e para iniciar o papo gostaria de saber como que era iniciar uma banda de Doom Metal no ano de 1990 e como que é serem os primeiros a investir no estilo aqui no Brasil, juntamente com a banda Pentacrostic?
Eduardo Slayer: Era solitário. Lembro que nos anos 1990 nunca tocamos com bandas de doom. Hoje temos iniciativas como a União Doom Metal BR ou a Nuktemeron Productions do Fábio Shammash (Mythological Cold Towers) mostrando como o doom nacional agora está bem articulado.
2. The Fall foi o primeiro trabalho oficial lançado, mas no final do ano de 1991 foi lançado um ensaio. Como se deu a distribuição e divulgação deste ensaio e também da The Fall?
Eduardo Slayer: Gravamos essa fita no antigo estúdio de Júnior, o Rocambole, na Av. Vasco Gama. Era uma gravação caseira, foi divulgada em poucos fanzines. Já a “The Fall” foi distribuída nos EUA pela Moribund Records e na França pela Holy Records. Negociamos cinco mil cópias dessa demo tape entre 1993 e 1995.
3. Na epoca quais eram as maiores dificuldades para lançar uma demo?
Eduardo Slayer: A maior de todas era a falta de dinheiro. O custo de estúdio de ensaio, de comprar equipamento bom, etc. era (e ainda é) muito alto. Outro problema era falta de engenheiros de som qualificados para gravar uma banda de metal.
4. Como que foi a produção e gravação de “The Fall”?
Eduardo Slayer: Fomos para Aracaju para gravar no Estúdio Visag entre maio e junho de 1993. Gravamos, mixamos e masterizamos as três faixas da "The Fall" em 20 horas.
5. “Damned Symphony”, seria o titulo de um split a ser lançado por um selo já extinto. Qual a outra banda que iria dividi-lo com a The Cross e porque não saiu este trabalho?
Eduardo Slayer: A "The Fall" ia ser um lado de um split lançado pela Bazar Musical. O outro lado ia pra uma banda cearense de death metal, a Obskure, na ativa até hoje. A coisa desandou quando Júnior, o dono selo, morreu num acidente. O irmão dele Gilmar assumiu a Bazar, mas não tinha muito tino pro negócio.
Comecei a desconfiar que Gilmar não fosse lançar esse material quando ele disse que as vendas do segundo disco da Slavery (que acabou saindo pela Cogumelos Discos) iam financiar a prensagem do split. Não era isso que Júnior tinha acertado com a gente. Durante a gravação do futuro-ex-split pedi o engenheiro do Visag copiar a fita master numa fita K7 minha. Três meses se passaram e nada. Nós, a Slavery e a Obskure continuamos pressionando Gilmar e ele continuou enrolando. Aí resolvi lançar a gravação como uma demo mesmo. Gilmar não gostou da história e disse que a gente só teria fita master de volta se o The Cross pagasse de volta os custos de hospedagem em Aracaju, gravação, etc. Ficou inviável pra banda. Resultado: ninguém sabe onde foi parar essa fita...
6. Em 1998 a banda parou. Alem de problemas com a formação, que outros motivos levaram a para com a banda?
Eduardo Slayer: Iaçanã Lima (ex-baterista da Headhunter D.C.) saiu do The Cross e a minha irmã Cristiane, a tecladista, também. Ficou difícil pra arranjar os músicos certos depois disso. Eu também tava cansado de carregar a banda nas costas.
7. “The Plague of the Lost River” seria o titulo do primeiro álbum da banda. Chegaram a gravar algo na época ou o que foi escrito foi ou será aproveitado algum dia? Porque do titulo?
Eduardo Slayer: O único registro que temos desse material é um vídeo do show do Palco do Rock de 1997. Inclusive tiramos duas músicas novas do fora do set list, senão o show ia durar três horas. A formação era totalmente diferente nessa época. A linha da banda foi mais pro lado do Funeral Doom. Baixamos a afinação (um tom abaixo, Ré), colocamos teclados e puxamos o som ainda mais pra trás.
O título foi uma coisa que eu e o baixista Toni Vila Nova bolamos. A inspiração inicial veio da capa do segundo disco do Paramaecium, “Within the Ancient Forest”. Aí juntamos com o nome de uma das nossas músicas da época, “The Lost River”. Viajamos nessa ideia paradoxal: como é que alguém pode ter a praga de um rio perdido? É bem abstrato, gera muitas reflexões.
8. A banda para em 1998 e quase duas décadas depois volta dos mortos. Como que é esta voltando após todos esses anos e lançar ai um EP e finalmente o primeiro álbum?
Eduardo Slayer: Está sendo muito bom e, ao mesmo tempo, bem difícil. A cena mudou muito dos anos 1990 para cá. Uma fitinha demo com três faixas fez a gente rodar o Brasil inteiro, de Teresina à Criciúma. E o público era maior. Um show nosso daqui de Salvador em 1994 teve quase mil pagantes. Hoje o normal é ter dez vezes menos esse público... E olhe lá. A coisa boa é que a comunicação tá muito mais rápida e barata e a qualidade das gravações melhoraram estupidamente.
9. O que andou fazendo enquanto a The Cross apodrecia em seu tumulo?
Eduardo Slayer: Em 2006 eu me casei com uma gaúcha e me mudei pra São Borja/RS. No mesmo ano eu e Toni ensaiamos um retorno, mas ficou só no papel mesmo.
10. O EP “Flames Through Priests” marcou a volta de vocês ao cenário underground, mais como foi esta de volta ao estúdio, compondo novos temas e finalmente gravar e ver torna se realidade mais um trabalho da banda?
Eduardo Slayer: Gravamos o EP no estúdio de um velho fã da banda, Sidinei “Grim” Falcão do Blessed In Fire. Gostamos do resultado final, apesar da gravação ser problemática. Durante o processo os velhos problemas de formação do The Cross voltaram e implodiram a banda. O The Cross já estava para terminar no final de 2015 até o nosso novo guitarrista solo, Zé Felipe, entrar na banda.
11. “Flames Through Priests” conta com duas excelentes musicas inéditas e mais a clássica demo “The Fall” de bônus. Porque gravaram apenas duas musicas e colocaram a demo como bônus?
Eduardo Slayer: Íamos gravar mais músicas, mas só "Sweet Tragedy" e "Cursed Priest" estavam realmente afiadas. Deixamos de fora "The Skull & The Cross" e "House of Suffering", as duas saíram no disco novo. A ideia de colocar a demo junto com as duas músicas foi um consenso entre eu e Eduardo Macedo, o dono do nosso selo (MS/Eternal Hatred Records). É uma estratégia nossa pra os velhos fãs e novos compararem o The Cross de 1993 com a sua nova encarnação.
12. Recebi aqui o primeiro álbum que leva o nome da banda. A capa quando foi divulgada em setembro de 2015 era colorida. Porque a mudança para o preto e branco cinzento? A arte foi ideia do Marcelo que fez ou ele apenas seguiu as orientações de vocês? Qual a mensagem ou significado por trás dela?
Eduardo Slayer: Sim, a capa original tinha três cores: preto, azul e verde. São cores “noturnas”. Mas quando o encarte começou a ser desenvolvido percebemos que ele estava todo em preto e branco. Aí parece lógico deixar a capa em preto e branco.
Marcelo Almeida, o designer, seguiu as minhas ideias na hora de fazer a capa. Um samaritano (referência à música homônima do Candlemass) vaga sozinho num cemitério. Ele olha para os céus em busca de respostas. Para onde ele vai? Por que sua vida ficou daquele jeito? Será que ele vai morrer logo? Etc. A morte está chegando perto, fechando o cerco nele. Tudo isso acontece no anoitecer (outra referência ao Candlemass, o disco “Nightfall”). É quando o mal acontece, espiritualmente falando.
A arte foi inspirada em parte pelo nosso guitarrista, Elly Brandão, que fez a maioria das músicas desse disco. Ele tinha câncer e faleceu em Abril de 2016, antes que pudesse gravar o disco. A morte era uma realidade concreta para ele; como ele enfrentaria os últimos meses de sua vida? A arte da capa é uma homenagem simbólica a sua perseverança. Ele lutou pelo metal até nas últimas horas de sua vida.
13. A cada trabalho um novo logotipo. Essa do álbum será permanente ou poderá vim a ser modificada no futuro?
Eduardo Slayer: Foi Alex Rocha, nosso ex-baterista, que fez o logo do EP. Ele misturou o logo antigo do The Cross com o logo antigo do My Dying Bride e fez uma coisa original em cima disso. Um tempo depois a gente pediu pra Marcelo Almeida fazer outro logo. Queríamos alguma coisa que tivesse um feeling mais arcaico, envelhecido, em ruínas. Pedi pra ele fazer esse logo destacando uma cruz.
14. As letras na sua maioria foram compostas pela banda. Poderia explicar sobre quais temas cada uma delas tratam e quais foram as inspirações para compô-las?
Eduardo Slayer: As letras são variações de três temas: karma, morte e depressão.
15. Porque da inclusão de versões para “Cold in the night beyond death” de Walter Savage Landor e “Poe’s Silence” de Edgar Allan Poe?
Eduardo Slayer: "Cold is the Night Beyond" é baseada no poema de Landor "Speech of a Dying Philosopher". Ele é um bom epitáfio. A ideia veio de Zé Felipe. A de Edgar Allan Poe veio de conversas minhas com Elly. Nos dois tínhamos simpatia pelos contos de Poe e queríamos fazer uma homenagem a esse grande escritor. Elly pesquisou, achou "Silence: a Fable" e aí ele fez uma adaptação desse poema. Terminamos a música numa semana. Ela é grande, arrastada, inspirada em “The Skull” do Trouble e “The Hunt” do Ahab.
16. Tem sido positiva a resposta do publico que já adquiriu o “The Cross” e a distribuição e divulgação pelo selo como que ta sendo?
Eduardo Slayer: Muita. Fomos a banda #3 de vendas do selo em março e em abril fomos a #2. Considerando que tocamos doom e que a MS tem 102 bandas isso uma grande conquista.
17. Porque “The Cross” para o titulo?
Eduardo Slayer: Muitas bandas de metal colocaram título do álbum de estreia com o nome da própria banda, de Mötörhead e Iron Maiden ao Deicide. Pareceu uma boa ideia pra eu e Elly.
18. Pra finalizar, quais os planos para o futuro da The Cross? Obrigado pela atenção e entrevista!
Eduardo Slayer: Já começamos a trabalhar no segundo disco. Diferente do primeiro, feito na pressa, esse vai ter muita pré-produção. Vamos ter tempo para definir os arranjos, os timbres, as letras, os arranjos de voz. Esperamos lançar esse álbum no meio do ano que vem. Também temos planos também para regravar 12 músicas da fase “clássica” dos The Cross, entre 1992 a 1995.
FORMAÇÃO
Eduardo Slayer - Vocal
Felipe Sá - Guitarra
Paulo Monteiro - Guitarra
Mário Baqueiro - Baixo
Louis - Bateria
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